Na investigação clínica de répteis amostras sanguíneas podem ser facilmente obtidas e são de grande valor diagnóstico, através de uma contagem de células de um hemograma identificamos possíveis causas inflamatórias, facilitando a triagem e tratamento dos animais. Mas dados hematológicos de tartarugas na literatura são extremamente escassos.
Além de prevenir doenças os exames laboratoriais podem servir como bioindicadores de qualidade ambiental, uma vez que a saúde do meio ambiente influencia na biologia e ecologia dos organismos que vivem nele. Mesmo com comprovada importância, temos dados, mas não hipóteses, muito menos teorias fortemente estabelecidas sobre os componentes e parâmetros do hemograma desta ordem.
Assim como nos outros grupos de animais, esses valores podem sofrer variações de diversas causas: idade, tamanho, habitat, sexo, sazonalidade, dieta. O que dificulta ainda mais os primeiros passos das pesquisas para estabelecer parâmetros hematológicos.
Aqui, nos baseamos em dois trabalhos sobre a hematologia de tartarugas. Uma dissertação de mestrado, que aborda os répteis em geral e depois finaliza exemplificando cada ordem, inclusive os Testudines, e um artigo que aborda um estudo comparativo do hemograma de indivíduos selvagens e de cativeiro da espécie caretta caretta, uma tartaruga marinha.
O objetivo de ambos os trabalhos era melhorar a avaliação do estado de saúde em Quelônios. Para uma possível manutenção de animais saudáveis em cativeiro e reabilitação de indivíduos de vida livre.
Interpretação de um Hemograma:
Quando avaliamos a resposta hematológica dos Testudines, fatores externos como a condição ambiental, podem aumentar ou inibir a resposta do animal à doença. A contagem total e relativa de células sanguíneas pode variar grandemente em função de diversos fatores, tais como: o tamanho da célula, a idade do animal, o sexo, a época do ano, além de fatores patológicos, nutricionais e ambientais. Este fato cria para o clínico uma dificuldade maior para a interpretação de resultados em exames hematológicos.
• Leucócitos Granulócitos: Acidófilos e Basófilos.
O desenvolvmento dos granulócitos é semelhante ao que acontece nos mamíferos. Migram da medula óssea para a corrente sanguínea. Durante a maturação ocorre uma diminuição de tamanho e o citoplasma torna-se menos basófilo.
Os heterófilos são formas celulares acidófilas encontradas em aves e répteis, Facilmente identificados pelo seu grande tamanho e numerosos grânulos citoplasmáticos fusiformes. O aumento nos valores médios desse tipo celular pode indicar resposta do sistema imune frente a agentes bacterianos, fúngicos, virais e parasitários.
Heterofilia e Heteropenia.
Hibernação e estresse são fatores que diminuem e aumentam respectivamente o número de heterófilos circulantes. Estas células sugerem resposta inflamatória severa à infecção (especialmente bacteriana) e a outros processos patológicos.
A função do eosinófilos está relacionada com a fagocitose de imunocomplexos e está associada a infecções por parasitas.
Eosinofilia e Eosinopenia
O número circulante de eosinófilos é influenciado por fatores ambientais, como as alterações sazonais. O número de eosinófilos diminui durante os meses de verão, e aumentam durante a hibernação. A eosinofilia pode ser associada a infecções parasitárias.
Basófilos apresentam uma grande variação de tamanho, mas são geralmente pequenos, grânulos basofílicos podem camuflar o núcleo. Reagem por degranulação, liberando histamina.
Basofilia
A basofilia está associada á infecções virais e parasitárias. O número de basófilos aumenta com a infecção por hemoparasitas. Variações sazonais em seus valores são mínimas.
• Linfócitos
Linfopoiese, morfologia e função dos linfócitos são muito semelhantes à dos mamíferos.
Linfocitose e Linfopenia
Variações sazonais demonstraram que o número de linfócitos aumenta com o verão e diminui com o inverno. O sexo também influencia no valor circulante de linfócitos. Fêmeas de algumas espécies possuem o número maior do que os machos. A linfopenia freqüentemente está associada à desnutrição ou ocorre secundariamente, a um grande número de doenças causadas pelo estresse e pela imunossupressão. A linfocitose ocorre durante a cicatrização de feridas, doenças inflamatórias, infecções parasitárias e virais.
• Monócitos
São geralmente as maiores células de periferia sanguínea e possuem formas que variam de circular à amebóide. O núcleo também varia em forma, estando entre oval e lobulado. Eles possuem a função de fagocitose e são importantes na resposta granulomatosa de infecções microbianas.
Monocitose
O número de monócitos não é influenciado por variações sazonais. E sugere doenças inflamatórias, principalmente inflamação granulomatosas.
Discussão.
Variação de Leucócitos: Esta variação pode ser explicada pelo período da coleta das amostras de fêmeas que ocorreu na estação reprodutiva, onde devido à presença de hormônios, como a gonodotrofina e esteróides sexuais, normalmente as fêmeas apresentam valores inferiores às dos machos. Dado já visto nas causas naturais da linfocitose.
Dentre os leucócitos, a variação mais significativa é do eosinófilo: onde animais de vida livre apresentaram um número mais elevado desta célula. Como as tartarugas cativas são mantidas em ambiente controlado e passaram por procedimento de vermifugação, quando necessário, entende-se que os animais de vida livre possuem um estímulo parasitário maior para a produção de eosinófilos. O aumento deste tipo celular pode ser relacionado a casos de parasitismo, já que uma das funções do eosinófilo é participar da defesa contra infecções parasitárias.
Não foram observados basófilos nos grupos estudados, contudo, a presença deste tipo celular na circulação de tartarugas marinhas sadias é rara.
As condições ambientais, nutricionais e reprodutivas, as quais estes animais foram submetidos, influenciaram os resultados, observando-se valores distintos para as contagens relativas de eosinófilos e monócitos e absoluta de eosinófilos
Como podemos concluir, a hematologia é uma ferramenta fundamental para a avaliação das condições clínicas dos animais, inclusive dos répteis. Variações nos valores de eritrócitos podem indicar anemia ou policitemia, que são classificadas de acordo com as alterações clínicas apresentadas. Além disto, o estudo do eritrograma pode revelar a presença de hemoparasitas, que são achados comuns nestes animais. Da mesma maneira, o aumento do número de leucócitos totais pode nos indicar processos infecciosos, entre outros, e a leucopenia indica doenças virais.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
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